Dica de Leitura:
A grande biblioteca de Alexandria, fundada por
Ptolomeu Filadelfo no início do século III a.C., é para nossa cultura mito e
modelo. Foi com ela que o livro, até então mero instrumento auxiliar do ensino
oral, foi promovido a objeto de autoridade e prestígio, valioso em si. Somente
em Alexandria saber e livro se tornariam sinônimos.
A história da biblioteca alexandrina, que
existiu por mais de mil anos, porém, é ainda hoje obscura, não por falta de
dados, mas, ao contrário, pelo excesso de fontes contraditórias. Até mesmo os
documentos relativos à sua destruição, que a tradição sustenta ser obra dos
árabes, no século VII d.C., dão margem a dúvidas.
Mais do que uma história sistemática, A
Biblioteca Desaparecida é a análise de inúmeros mistérios ligados a uma
enorme coleção de livros, histórias de volumes perdidos e reencontrados, de
furtos e falsificações, brigas entre bibliotecários e disputas entre
colecionadores.
Através desse mosaico de acontecimentos
delineia-se pouco a pouco a imagem de uma cultura que fez da conservação do
passado seu principal dever e que, graças ao empenho de gerações de estudiosos,
conseguiu reconstruir o pensamento de Aristóteles (que em vida publicara apenas
alguns diálogos secundários); traduzir a Bíblia para o grego, divulgando-a em
todo o Ocidente; preparar edições dos poetas gregos — ainda hoje a base do
nosso conhecimento do mundo clássico —, mas que, em sua tentativa de unificar e
tornar universalmente conhecidos todos os livros do mundo, foi constantemente
frustrada pelas recorrentes destruições.
Tendo por base um sólido trabalho filológico,
que lhe permite dominar um campo extremamente vasto de pesquisa, Canfora
contrapõe à narração história a análise das fontes. Desse procedimento resulta
um livro que é, como era costume em Alexandria, criação original e resumo de
infinitos livros.
Ptolomeu Filadelfo quer reunir todos os livros do
mundo; o califa Omar pretende queimá-los todos, salvo o Corão. Entre esses dois
sonhos, nasceu e foi destruída a monumental biblioteca de Alexandria, cidade
que por mais de mil anos serviu de capital cultural do Ocidente.
Para narrar a história dessa imensa coleção de
livros, Luciano Canfora retoma uma antiga técnica dos bibliotecários de Ptolomeu:
a montagem e a reescritura das fontes, fundidas numa prosa aparentemente
romanceada, mas na realidade baseada, quase frase por frase, em textos antigos.
A história da maior biblioteca do mundo se confunde assim com a história dos
livros que acumulou e dos livros que a descreveram — como uma última crônica de
um erudito bibliotecário de Alexandria.
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