A sonda espacial Voyager estava já além da órbita de Plutão e bem acima do plano eclíptico da orbita dos planetas, se afastando do sol a 64.000 quilômetros por hora.
Mas em fevereiro de 1990 ela foi surpreendida por uma mensagem urgente da Terra. Ela precisava voltar suas câmeras para trás, em direção aos agora distantes planetas e tirar uma panorâmica de 60 fotos do nosso sistema solar.
A Voyager estava naquele momento a 6 bilhões de quilômetros da Terra.
A distância é tão grande que cada pixel demorou 5 horas e meia para chegar aqui, viajando na velocidade da luz.
A foto foi a última missão da Voyager e um pedido especial de Carl Sagan, que enfrentou algumas resistências da equipe da Nasa, do tipo “isto não é ciência”.
Acontece que Carl Sagan não era apenas cientista, era também filósofo e poeta.
E a razão desta foto vinha de uma outra, tirada pelos astronautas anos antes, em 1972, na missão da Apollo 17, a última missão tripulada a caminho da lua.
A primeira foto da Terra em que ela aparece inteira:
Esta foto foi tirada pelos astronautas da Apollo 17. Uma feliz coincidência que a primeira foto da terra inteira tenha mostrado o continente Africano, onde os primeiros humanos apareceram, andarilhos das savanas. Apenas para registro, foi tirada com uma câmera Hasselblad, que, para quem não conhece, é uma das melhores que existem.
Reflexão de Carl Sagan
Trecho do primeiro capítulo do Livro “Pálido Ponto Azul” (Pale Blue
Dot), um livro que vale a pena ser lido, pela beleza de sua profunda
sabedoria, uma jornada no tempo e no espaço guiada da maneira simples e
poética, mostrando os limites da exploração espacial e apostando que no
futuro, nos teremos que voltar a ser andarilhos, como no passado, mas
desta vez nas estrelas:
A Terra é um palco muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, eles pudessem se tornar os donos momentâneos duma fração desse ponto. Pensem nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores de algum outro canto, quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos eles são para matar uns aos outros, quão ardentes os seus ódios.
As nossas exageradas atitudes, a nossa imaginada autoimportância, a ilusão de termos alguma posição privilegiada no Universo, são desafiadas por este pálido ponto de luz. O nosso planeta é um cisco solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de outro lugar para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido até agora capaz de abrigar vida. Não há mais nenhum outro, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Estabelecer-se, ainda não. Gostando ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.
Tem sido dito que a astronomia é uma experiência de humildade e de construção de caráter. Não há, talvez, melhor demonstração da tolice da presunção humana do que esta distante imagem do nosso minúsculo mundo. Para mim, isso acentua a nossa responsabilidade para lidarmos mais amigavelmente uns para com os outros, para cuidarmos e protegermos o pálido ponto azul, o único lar que conhecemos.”
(Carl Sagan, “Pálido Ponto Azul”)
By W.X.
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